Consumo de luxo "made in China"

A eterna questão: de um lado os pobres, cada vez mais pobres, do outro os ricos, que já foram mais, e onde surgem os novos-ricos... chineses.<br />
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"Ficamos muito satisfeitos com o desempenho da loja de Lisboa, que cresceu de forma constante desde a sua abertura, em Junho de 2010, e superou as nossas expectativas", revelou ao DN fonte oficial da Prada, em Itália, uma das muitas marcas de luxo com presença em Portugal, apesar de não especificar números. "Segredo" que a Burberry não tem ao revelar ao DN ter crescido 15% em 2010, apesar de antecipar um abrandamento para este ano. Para este resultado contou a venda, sobretudo, de roupa  e de acessórios - 50% a estrangeiros e 50% ao público nacional, adianta a mesma marca.

Louis Vuitton e Hermès preferiram não comentar, mas o DN consultou as suas contas oficiais (ver caixa) e verificou que vão bem e recomendam-se, não só em Portugal - onde a maioria das famílias perdeu poder de compra -, como também na Europa, graças ao consumo do mercado chinês, em expansão.
Assim, as vendas globais de artigos de luxo deverão totalizar entre 173 e 176 mil milhões de euros em 2011, acima dos 170 mil milhões de 2007, teoricamente o ano em que a crise começou. Segundo um estudo da consultora norte-americana Bain & Co a que o DN teve acesso, este segmento deverá crescer este ano entre 3% e 5%, com a venda de acessórios a recuperar [malas, relógios e jóias].

"As vendas de luxo aumentaram a nível mundial por causa de uma forte recuperação na confiança do consumidor. Agora, verifica-se uma grande afluência de consumidores  que adiaram a compra em 2009, fazendo que os retalhistas colocassem mais bens de luxo no mercado para responder ao aumento da procura. O mercado mundial também  beneficiou de um crescimento particularmente forte nos EUA", explicou ao DN Cláudia D'Arpizio, partner da consultora Bain & Co.

"Na primeira metade deste ano falamos de uma luz ao fundo do túnel", defende, por sua vez, Santo Versace, presidente da associação italiana de artigos de luxo Altagamma, que contribuiu para o estudo da Bain & Co.

As vendas globais de artigos de luxo cresceram 10%, para 168 mil milhões de euros, em 2010, depois de terem caído 8% em 2009, o pior ano da indústria em mais de duas décadas, refere o mesmo estudo. Para isso contribuiu o boom da Ásia e as compras dos turistas chineses na Europa.

Segundo um outro research,  citado pela Bloomberg (Oxford Economics), cerca de 2,5 milhões de turistas chineses visitaram a Europa Ocidental em 2010, mais 500 mil do que em 2009. Número que se prevê venha a subir para três milhões até 2012.
Os chineses são actualmente responsáveis por um quarto do consumo de artigos de luxo na Europa, estima Luca Solca, analista da Sanford C. Bernstein citado pela Bloomberg. Um estatuto alcançado graças ao poder de compra, que aumenta por causa da  valorização do iene face ao euro. "Os compradores clássicos da Place Vendôme [uma das mais luxuosas zonas de Paris] costumavam ser estrelas, celebridades, membros das famílias reais europeias em grandes limusinas", diz Eché Okonkwo, director de uma loja de luxo parisiense, acrescentado que "hoje são os turistas chineses que vêm comprar em grandes autocarros em grupos".

Os chineses gastaram em 2010 cerca de 10,2 mil milhões de euros em artigos de luxo [malas de mão e viagem, sapatos, relógios, jóias, roupas, cosméticos e perfumes], segundo a Bain & Co, acrescentando que metade desta quantia foi feita fora do seu país.

As vendas online são também para considerar, com um crescimento de 20% em 2010, para 4,2 mil milhões de euros, sendo 30% destas vendas feitas com descontos.

Estes números estão a levar muitas marcas de luxo a procurarem o Oriente, nomeadamente a China, para aí se instalarem. Não é estranho ver marcas como a Louis Vuitton, Hermès, Gucci, Chanel ou Prada, entre muitas outras, instalarem-se em Xangai ou Hong Kong.

A China continua a ser o mercado de luxo que mais cresce, com vendas esperadas a aumentarem 30% este ano, enquanto o segmento no Japão irá começar a recuperar só no próximo ano, refere a Bain & Co. As vendas na Europa, onde os artigos de luxo pesam 75% no mercado global, irão crescer 6% este ano, impulsionadas por compradores vindos de mercados emergentes como a China. Os EUA, onde as vendas caíram 15% em 2009, atingidos por descontos nos estabelecimentos, irão crescer 7% a 12% este ano, em contraste com os mercados estrangeiros.
Espera-se que o grupo das malas de pele, sapatos, jóias e relógios cresça mais de 8% este ano, seguido de roupas, perfumes e cosméticos. Já a indústria de iates irá continuar a cair dois dígitos por ano, estima-se, segundo a Reuters, 6,4 mil milhões de euros, com os barcos de menor porte a ganharem terreno, ou melhor... mar.

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